Memórias de Jaguariúna

Capítulo 1 - O fundador de Jaguariúna Amâncio Bueno

por Gislaine Mathias/Estrela da Mogiana em 30/07/2023Montagem de foto mostra coronel Amâncio Bueno, fundador de Jaguariúna junto com o bisneto Márcio Bueno (Acervo de Márcio Bueno)De uma fazenda nasceu uma vila, depois um distrito e uma cidade. Esta é a história de Jaguariúna e a fazenda Florianópolis, de propriedade do coronel Amâncio Bueno. Ele estudava medicina em Paris, capital da França, quando teve que retornar ao Brasil, em 1878, por causa da morte do pai, Capitão Cândido José Leite Bueno da Silveira, que era proprietário da Fazenda Camanducaia, atual Fazenda Santa Francisca do Camanducaia. De herança herdou as terras que ficavam próximas ao rio Jaguari e deu o nome de Florianópolis por ser simpatizante do Marechal Floriano Peixoto, que foi presidente do Brasil, de 1891 a 1894.

Com uma visão empreendedora e à frente do seu tempo, Amâncio Bueno contratou o engenheiro Guilherme Giesbrecht para desenhar a planta de uma vila, no ano de 1894, nas terras da Fazenda Florianópolis. Nascia a Vila Bueno, com as 11 primeiras casas e as ruas largas, com os nomes de alguns parentes do Coronel. Antes dessa data, em 1889, ele iniciava a construção da Igreja de Santa Maria, no estilo gótico, que ficou pronta em 1894, sendo inaugurada com uma programação festiva, nos dias 12 e 13 de janeiro de 1895. Já no dia 19 de fevereiro de 1902 era criada a Paróquia de Santa Maria.
  O coronel nasceu em Campinas, no dia 18 de setembro de 1860 e faleceu em 19 de fevereiro de 1914, às 20h, vítima de cachexia consecutiva a largo aneurisma da aorta, de acordo com Atestado de Óbito, na rua Alvares Machado, número 9. O bisneto Márcio Ismael Nicolace de Campos Bueno (in memoriam) se mostrou um apaixonado pela história da família e realizou por um longo tempo uma série de pesquisas sobre os descendentes e descobriu detalhes da árvore genealógica da família.

  
 
    O meu pai nasceu em Jaguariúna, meu avô [Godofredo] também em Jaguariúna. Só eu nasci em Campinas, mas a família praticamente toda nasceu em Jaguariúna. Meu pai era Miguel de Campos Bueno. Ele faleceu em 2013, com 88 anos. O coronel teve muitos filhos. Ele só teve um casamento, mas ele teve, vamos dizer assim, três esposas que ele conviveu. (A primeira esposa foi Maria Angela Teixeira Bueno, com quem foi casado e teve 3 filhos: Sylvia, Julia e Egas). O meu avô era da segunda esposa dele: Filomena [de Camargo Campos Salles Bueno]. Ele não foi casado e teve com ela dois filhos, meu avô e minha outra tia avó [Isaura de Campos Bueno]. Depois com a última esposa [Ermelinda Romanini Bueno]ele teve 10 filhos [Admur, Plinio, Alberico, Almerindo, Silvio, Floriano, Amâncio Jr, Alice, Anita e Cândido], mas não foi casado também. Eu sempre tive muito contato com os primos e as primas de todos os casamentos. Eu conhecia alguns tios avós meus. A minha última tia avó faleceu com 104 anos foi a tia Alice, que era a caçula da última esposa dele [Ermelinda]. Consta como nascimento em Campinas, mas ele [coronel Amâncio] morava em Jaguariúna. Os demais filhos dele nasceram em Jaguariúna na fazenda através de parteira. Meu avô nasceu na fazenda. O que eu tenho conhecimento basicamente todos os filhos nasceram em Jaguariúna porque ele tinha a casa da cidade, onde é a Vila Bueno hoje e a fazenda Florianópolis, onde é a fazenda Serrinha hoje. Ele tinha duas residências. Ele tinha essa residência aqui em Campinas também, na rua Álvares Machado, onde ele faleceu, nem existe mais a casa. Agora aqui em Campinas tem uma avenida em frente à Escola Preparatória de Cadetes do Exército, com o nome dele, Avenida Coronel Amâncio Bueno. Deixou um exemplo para os filhos. Morreu novo. Com pouco tempo de vida o legado que ele deixou pra família e pra Jaguariúna. Diz que ele era uma pessoa muito alegre. Eu tive uma professora de francês, quando era criança, que ela conheceu o coronel, meu bisavô. Ela falou que às vezes encontrava com ele nas viagens no trem, quando ia pra São Paulo, que ele era um homem muito alegre e muito divertido. Ele faleceu em 19 de fevereiro de 1914 às 20 horas, em Campinas. É isso que está na certidão de óbito dele. Ele foi o pontapé inicial pra que Jaguariúna seguisse uma trilha pra chegar no que é hoje, plantou essa semente. Acho que foi uma pessoa fundamental na história da cidade e tirou dele pra deixar pra posteridade.

 
Pesquisa
 
Durante 30 anos, Márcio realizou uma pesquisa sobre a história da família. Ele era um apaixonado por conhecer as suas origens. Nesse processo, ele conversou com parentes, pesquisou documentos e foi montando um blog para registrar fotos e histórias da sua descendência.
De acordo com o último levantamento feito por ele no blog, o coronel teve 15 filhos, 36 netos, 16 bisnetos e quatro trinetos. Segundo a publicação, a lista de descendentes deve ser ainda mais numerosa.
 
  

  Eu tenho um blog na internet que tem muitas fotos de todos os tios avós e conto as histórias. Eu fiz a árvore [genealógica] da família, a minha descendência. Nós descendemos direto de Amador Bueno [de Ribeira]– O Aclamado. O filho do Amador Bueno, o Amador Bueno - O Moço, o primeiro filho do Aclamado vem em nossa linha direta de família, então, nós descendemos dos bandeirantes. O coronel descende dos bandeirantes.  Eu pesquisei durante 30 anos pra chegar aonde eu cheguei. O mais recente que eu descobri, através de uma pesquisa na Marinha Portuguesa e na Marinha do Brasil também, foi o Juan Faraz, era um cientista e médico do Dom Manuel I, rei de Portugal. Ele era um homem de confiança dele, então, ele veio com o [Pedro Álvares] Cabral na época do Descobrimento do Brasil [em 1500]. E chegando aqui no Brasil ele escreveu muitas cartas pro rei Dom Manuel I, relatando todos os fatos acontecidos aqui no Brasil. Depois ele voltou pra Portugal e fiquei sabendo agora recentemente desse ancestral. Esse é um dado mais recente que descobri da família que eu não sabia. Conversava muito com a tia Alice, a última filha do coronel que faleceu. Meu pai conversava muito com as primas dele, com os primos e contavam muitas histórias. Pesquisei, via internet, depois eu também há uns 20 anos atrás eu conheci a neta do Silva Leme [Luiz Gonzaga da Silva Leme], aquele genealogista, que fez um levantamento da colonização de São Paulo e através dela que eu fui descobrindo as ligações e fui buscando desde Bartolomeu Bueno de Ribeira e aí consegui a árvore toda da família. Fui pesquisando também muitas coisas no Museu de Portugal, na Marinha Portuguesa também e na Marinha Brasileira. E buscando na internet muitos relatos e muitas histórias. Depois eu fiz esse blog e coloquei tudo. São vários temas. Tem muitas fotos e eu tenho foto do pai do coronel Amâncio, que é o capitão Cândido José Leite Bueno da Silveira. Tem fotos dos primeiros filhos do coronel. Fui buscando na família fotos, copiando e tenho um acervo nesse blog. Tudo que eu consegui eu fui postando. Eu tenho Jaguariúna como uma cidade do meu coração.  

 
Importância
 
 O coronel Amâncio Bueno foi responsável por várias benfeitorias para o Distrito de Paz de Jaguary, como, a criação de duas escolas estaduais masculina e feminina, doação de uma nascente da fazenda Florianópolis para Mogi Mirim e canalização de água, colocando um chafariz na Praça Umbelina Bueno ao lado da Igreja Centenária de Santa Maria. Também doou parte do terreno para o cemitério, que existe até hoje. Márcio ficava emocionado ao comentar a importância dele para a história de Jaguariúna. Foi ainda o Coronel que conseguiu junto à Câmara Municipal de Mogi Mirim a elevação da Vila Bueno a categoria de Distrito de Paz de Jaguary, em 5 de agosto de 1896, pela lei 433.
 
 

  É muita emoção e muito orgulho. Ele foi estudar medicina na França, mas não chegou se formar porque quando meu trisavô [Cândido] morreu a mãe chamou ele e veio tomar conta dos negócios, então, eu vejo com muito orgulho porque foi uma pessoa especial, com uma visão impressionante. Ele investiu, pegou um pedaço da fazenda, fez a vila, construiu as casas, mandou fazer a planta e fez a igreja. Fez o primeiro chafariz, tirou a água da fazenda para colocar na vila, então, ele foi uma pessoa muito à frente do seu tempo e uma pessoa muito dinâmica. E ele tinha muita admiração pelo Floriano Peixoto, que era amigo pessoal dele e foi Presidente da República. E como ele era primo de Campos Sales, que foi presidente da República também [de 1898 a 1902], ele era um cara muito politizado e pertencia ao Partido Republicano. Ele foi sempre um cara muito à frente do tempo dele, muito empreendedor. Ele idealizou que no futuro a Vila Bueno seria uma cidade. Era uma pessoa justa, empreendedora, uma pessoa de bom coração, que gostava de ajudar as pessoas. Uma característica que eu notei em toda a minha família, primos, primas... essa postura de fazer a coisa certa, de gostar das coisas corretas, isso era um exemplo que sempre foi falado que o coronel deixou pra todos os seus filhos e queria que todos os seus filhos estudassem também. Cada um foi alguma coisa. O meu avô foi agricultor porque ele fugia da escola e queria ficar na fazenda. Aí o tio Candinho me conta também que o meu avô seguia o mesmo jeito e estilo do coronel. Meu avô não podia ver injustiça que tomava a frente para fazer justiça para as pessoas mais carentes e menos favorecidas. Saia até de ceroula, pegava o cavalo e ia defender a pessoa que estava sendo agredida injustamente. Um povo que não cultua a sua história é um povo que não tem identidade. Eu sempre fui assim minha vida toda, eu sempre pesquisei muito. Eu gosto muito de história. Eu dou muito valor pra isso, eu tenho o maior respeito pelos meus ancestrais, não importa se foram nobres ou plebeus. Se eu estou aqui hoje, eu tenho que agradecer aos meus ancestrais.
 
 
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