Memórias de Jaguariúna

As tradições das famílias no Natal e Ano Novo no tempo da antiga Jaguariúna

por Gislaine Mathias/Estrela da Mogiana em 24/12/2020 Tempo em que o padre Gomes distribua alimentos para os mais carentes no Natal: prédio do cinema, atual teatro, na rua Amâncio Bueno As comemorações do Natal e do Ano Novo passaram por transformações ao longo dos anos. Ao voltar no tempo, quando Jaguariúna era distrito de Mogi Mirim, as comemorações de final de ano eram centradas na igreja católica e nas antigas tradições transmitidas de geração em geração.
 
De acordo com Terezinha Marion o Natal era comemorado de maneira simples, mas significativa. “A cidade era pequena e na igreja tinha a Missa do Galo à meia noite e no dia de Natal havia missa de manhã e a procissão do Menino Jesus no período da tarde. A gente pegava galho de árvore para fazer os enfeites, pois não havia pinheiro e nem televisão para verificar as sugestões de decoração, então, seguia a tradição do povo antigo”, relata Terezinha.
 
Ela recordou que o presépio montado na igreja era coberto com uma cortina e só descobria à meia-noite para mostrar aos fiéis o Menino Jesus na manjedoura.
 
“As festas não tinham todo o glamour como na atualidade. Naquele tempo não podia faltar no almoço a macarronada e o frango ou arroz, feijão, frango e batata frita. E o refrigerante era o prêmio do Natal, pois só nessa data é que cada criança tinha direito a uma garrafa da bebida, era a Maça Vannucci ou Mogi”, recorda.
 
Também não havia ceia e nem brinquedo. “A minha irmã mais nova chegou ganhar uma boneca de papelão de presente”, conta Terezinha completando que depois a situação foi melhorando com o tempo.
 
“Naquela época um corte de tecido e um livrinho de igreja eram presentes de Papai Noel. E quando ganhava tecido fazia vestido para a festa de São Sebastião. Era costume se reunir nas calçadas para mostrar os presentes”.
 
No Ano Novo tinha a missa à meia noite e era tradição cantar ‘Te Deum Laudamus’, hino de ação de graças em latim. “Hoje, muitas pessoas não sabem porque estão festejando essa data, mas naquele tempo a gente sabia que era o nascimento de Jesus, fazia questão de ter pelo menos uma imagem do menino de Jesus em casa e rezava antes do almoço. As comemorações eram focadas na igreja”.
 
Quando o padre Gomes assumiu a Matriz de Santa Maria iniciou a tradição de organizar o Natal para as famílias mais carentes.
 
Terezinha conta que formava uma fila em volta do cinema, atual teatro, para pegar a senha com o intuito de ganhar roupa e participar do almoço, com direito a sobremesa de sagu e bolo. Eram atendidas cerca de 200 pessoas.
 
Cada família preenchia uma ficha com a idade da criança e o tamanho para que as mulheres da comunidade costurassem as roupas. “Era uma grande felicidade comemorar essa data”, finalizou.
 
Doces lembranças
 
O coordenador da Casa da Memória de Jaguariúna, Tomaz de Aquino Pires recordou que a infância foi sempre um período colorido e de doces lembranças.
“Nós guardamos não só as imagens, mas o cheiro da infância, das flores, dos quintais e das brincadeiras”, disse Tomaz recordando que no tempo de Natal sentia o cheiro que vinha da cozinha da sua mãe preparando os doces de figo e de pêssego, e a caçarola italiana.
 
“O padre Antonio Gomes nos preparava para o Natal com a montagem dos presépios nas casas”, disse. Ele recordou que no mês de dezembro, o padre costumava colocar o nome de cada coroinha em peças do presépio para acompanhar a participação deles nas atividades da igreja e no Dia de Natal, eles ganhavam a peça se tivessem realmente se preparado para o nascimento do Menino Jesus.
 
De acordo com Tomaz todos esperavam a Missa do Galo. “Era tradição  fazer jejum de sete horas, que começava às 15h e terminava às 24h para comungar na Missa do Galo. Só podia tomar água”, frisou. Ele contou que todos os coroinhas participavam com as suas batinas, sapatos engraxados e respondiam as orações em latim. “Era uma preparação para a vinda de Jesus e para a festa do Natal, da reunião da família”, frisou.
Padre Gomes e algumas pessoas da comunidade que ajudavam na organização dos eventosAno Novo
 
Para celebrar o Ano Novo, a cerimônia religiosa começava às 23h com a Hora Santa e à meia noite ocorria a missa. Em seguida, a Corporação Musical Santa Maria de Jaguariúna saia pelas ruas tocando e visitando as casas e os sítios. Os músicos eram recepcionados com quitutes. “Nós despertávamos com a banda tocando e descendo a rua. Todos corriam na frente das casas ou para as janelas para ver a banda passar saudando o Ano Novo”, contou.
 
Os presentes haviam poucos e eram simples. “Às vezes uma bola, uma cornetinha de plástico e boneca, e muitas vezes eram preparados em casa. Também era tradição, as crianças saírem as ruas quando amanhecia para dar bom princípio de Ano Novo. As famílias retribuíam dando dinheiro ou pacotes de balas e doces”, enfatizou.  
 
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