Memórias de Jaguariúna

Capítulo 18 - Uma costureira no distrito e o Natal em família em Jaguary

por Gislaine Mathias/Estrela da Mogiana em 23/08/2023Casal Adolfo Chiavegato e Nazira Mansur Chiavegato junto com as filhas Therezinha, Maria Cecília (Cilinha) e o filho Antonio (Tite) - Acervo da família de Therezinha)Desde criança, Therezinha Aparecida Chiavegato Marion acompanha de perto a programação religiosa e festiva, na Igreja Centenária de Santa Maria, pois sempre morou próxima à Praça Umbelina Bueno. Filha de Adolfo (Afdolfo) Chiavegato e Nazira Mansur Chiavegato, além de estar sempre pronta para ajudar na igreja, ela foi colecionando fotos de diferentes épocas ao longo do tempo, e atualmente, possui o maior acervo fotográfico religioso de Jaguariúna, reunindo desde batizados, festas, casamentos, primeira comunhão até outros temas ligados à igreja, que estão guardadas na Casa da Memória Padre Gomes.

 Therezinha acompanhou a dedicação da sua mãe na profissão de costureira e na ideia de transformar a sua casa em pensão, para ajudar na renda da família. Além da vida religiosa bastante participativa e de colaborar com a preservação do patrimônio histórico da Igreja Centenária de Santa Maria, Therezinha se mostrou uma mulher empreendedora, numa época que ninguém falava de empreendedorismo, pois montou uma fábrica de colchão e cabides, em sociedade com o irmão Antonio Pádua Chiavegato, conhecido por Tite, e foi proprietária de uma loja no centro de Jaguariúna chamada São Judas Tadeu.


 
   Minha mãe costurava pra fora e meu pai era mascate e vendia coisas nos sítios. Sábado trocava mercadorias com frango, e assim, vivemos porque a vida de antigamente era difícil. Hoje em dia, as pessoas que precisam têm muitos movimentos que ajudam, mas antigamente, não tinha era cada um por si. Minha mãe sempre trabalhou, ela costurava e depois que nós tivemos a fábrica, aí ela olhava as crianças. Na época que ela mais [trabalhava], ela costurava para [as filhas do Gabriel] Sayad. Lembro bem quando morreu o pai das Sayad ela fez todos os vestidos de preto. Era tempo do luto. Ela costurava pra gente, pra criança, fazia calça também, bordava assim na máquina, fazia cada colcha bonita e bordava. E dava pensão [hospedagem e alimentação], quando a gente morava no casarão da tia Salime Mansur David, na rua Cândido Bueno, onde hoje é o Banco do Brasil. A dona Maria Aparecida da Silva, era diretora do meu tempo e eu tirei diploma com ela, e ela morava com a gente. Ela e o marido Orlando Criscuolo. O filho estudava no Liceu [Salesiano] interno que aquele tempo diretora ganhava muito bem, então, minha mãe dava pensão pra eles e eles moravam junto com a gente. Depois que a dona Maria foi embora, veio o seu Leônidas, diretor do Amâncio [Bueno] também, a dona Elza e duas crianças moraram um tempo. Não tinha água encanada nem banheiro, era tudo fossa negra. De banho na bacia de água de poço. Tomava banho e jogava água pela janela porque era terra, a rua era terra também. Minha mãe batalhou dando pensão e construiu uma casinha [na Praça Umbelina Bueno]. As professoras moravam juntas aqui, que nem a Narcisa Bertinate Barbosa veio de Piracicaba. Tinha uma outra, que ela chamava Cida [Aparecida] Taveira, veio de uma cidade longe. Ficou aqui na época da Narcisa. E fizemos muita amizade nesse campo. A minha mãe quando o pessoal da fazenda Castelo chegava, ela ficava o tempo inteiro indo lá, o dia inteiro. Levava a Cilinha [Maria Cecília Chiavegato Cassiani] que era pequena e eu ficava com o Tite [Antonio Pádua Chiavegato] em casa, e ela ia costurar lá na fazenda. Então, minha mãe trabalhava assim, nessa alegria e aparecia muita coisa pra fazer. Teve uma vez que ela fez 50 batinas para coroinhas quando a Paróquia [de Santa Maria], aqui era o padre Mariano (Antonio Mariano da Silva Camargo - 1943 a 1947). A paróquia estava fazendo parece, 50 anos. E eu lembro bem que ele ia lá e ela costurava dia e noite, batina e o roquete, aquele branco. E aí o padre ia lá quase sempre olhar como é que ia o serviço. Minha mãe falava tô ficando cansada, não, não, a senhora não vai ficar cansada, vai fazendo, ele incentivava. Eu sei que ela conseguiu fazer as 50 túnicas. Ela trabalhava bastante. Nós moramos primeiro, onde é a loja da Natura, era casa da Carmem Queiroz, na rua Cândido Bueno, e de sábado vinha o dentista seu Manoel trabalhar num cantinho. E minha mãe de sábado fazia o almoço pra ele e com o dinheiro dava para comprar carne, então, no sábado tinha bife e frango no domingo, o resto da semana se virava com batata....  Quando estava com 13 pra 14 anos, nós mudamos pra cá, na Praça Umbelina Bueno. Corria nessa praça, caia, pegava aquelas pedras porque tudo pedrinha, enfiava no joelho. Brincava de corda, peteca, corria, tinham as arvorezinhas balançava no jardim. A minha mãe sentava numa calçada e ficava olhando. A gente ia no cinema ai a minha mãe punha uma cadeira na porta da casa e quando a gente entrava era só empurrar a cadeira. Não tinha perigo. A minha mãe com todo o trabalho dela, ela ficou sendo pra gente uma referência. A morte da minha mãe foi muito difícil para nós. Minha mãe era pronta para ajudar.

 
Catecismo e Natal
 
 Therezinha gostava de fazer o catecismo e ainda lembra que o padre Antonio Joaquim Gomes passava cineminha para as crianças, com figuras paradas e que ele ia contando as histórias. O Natal, era especial, porque passava em família e apesar das dificuldades sempre tinha uma árvore improvisada com bolas e velas, para celebrar a data. 

 
 
  A gente não ia brincar na rua de jeito nenhum, então, era ali dentro mesmo, escola e igreja. Alegria da gente era o catecismo, era reza da noite que eles traziam a gente pra reza. Mês de maio, o padre [Antonio Joaquim]Gomes fazia a procissãozinha e depois da missa ele passava um cineminha. Eu lembro que eu ficava em cima de uma mesa para assistir. Eram figuras e ele ia explicando. Eu lembro do Adão e Eva, eram figuras paradas ia mudando e ele ia falando. Era o cineminha até que ele conseguiu o cinemão. Eu participei de toda essa evolução. A vida foi baseada na igreja e na escola. Faculdade eu só consegui fazer depois dos 40, eu me formei em história com 50 anos. Eu lembro que a gente passava [o Natal] em casa entre nós. A gente vinha na missa da meia-noite e não tinha esse negócio de ceia nada. Acendia as velinhas [na árvore] naquele tempo, hoje é luz, antigamente era um negocinho com umas velinhas, aí chegava em casa acendia as velinhas, a gente pegava galho de um pinheiro que tem aqui do lado da igreja, mais baixo e montava a árvore naquilo lá e punha as bolas. A gente ficava assim olhando nas bolas e acendia as velinhas pelo menos um pouquinho depois apagava porque senão pegava fogo. A gente comprava um negocinho de encaixar no galho da árvore e tinha lugar para você por a velinha, já era próprio.


Fábrica e loja
 
 Therezinha foi uma mulher empreendedora e chegou a ter fábrica de colchão e cabides, sendo que vendia fora de Jaguariúna e também foi proprietária do Bazar São Judas Tadeu, no ano de 1982.


 
  Eu fiquei com meu irmão [Tite ] na fábrica desde [19]64. Nós abrimos uma fábrica de colchão e cabides, começou aqui no quintal da minha casa, mas depois nós fomos lá embaixo onde era o [Roberto] Mantovani, o cinema antigo [rua Alfredo Engler]. Fazia os colchões e o meu irmão saia vender. Depois começou cabide que vinha aquela espuma. Ficamos muitos anos. A gente vendia para as lojas Americanas, Paes Mendonça na Bahia, Pão de Açúcar. Agora, Americanas, era mais forte pra gente, comprava muito para todos os estados. E outros supermercados também, o Eldorado. O Silvio Santos, uma vez, mandou buscar um tipo de cabide. Eles ligaram. A gente fazia um cabide que ele ficava fofo, mas a gente vendia aquele só pro Eldorado porque era trabalhoso, então, não fazia muito. Ficava o formato do ombro e não amassava [a roupa]. Ligaram se podia mandar buscar. Veio um carro só para buscar três dúzias de cabides pro Silvio Santos. Ele era grosso assim e ficava bem nos ombros. Chamava carneirinho o cabide. Tite colocou o nome de carneirinho porque a espuma se encontrava e ficava como lã de carneiro. Eu lembro que sempre a loja Americanas de Campinas pedia que a gente levasse os cabides sem gancho para pôr o gancho lá. Eu sei que fiquei três dias trabalhando lá dentro do depósito para pôr os ganchos nos cabides. Todo nome que o meu irmão ia pôr[na fábrica] ia ver tinha registro e ele juntou a Heloísa que é filha dele e a Ana que era minha, então, ficou Heloana. Nós ficamos com a fábrica de cabide até [19]82, depois que eu abri a loja [no mesmo ano] e tinha o nome de Bazar São Judas Tadeu. Como estava tendo muito problema com madeira, fiscalização por causa de corte da madeira, nós fomos parando com a fabricação de cabides. E aí o meu irmão arrumou um serviço muito bom para ele e eu fiquei com a loja. Eu abri a loja e pus uns saquinhos de flocos [de espuma] para fazer travesseiro, uns cabides e emprestei um cavalinho de madeira de um rapaz de Pedreira para ter alguma coisa na loja. Era só um corredorzinho pequeno. Eu achei que a minha loja ia ser de artigos religiosos. Eu queria comprar cartãozinho de mensagens de marca página, ninguém tinha e eu queria usar aqueles cartõezinhos religiosos para dar para a criançada da catequese. Aí eu fui comprar nas irmãs lá em Campinas. Só que passava uma professora, mas você não tem tal coisa? Não, mas eu trago. Aí passava outra...Eu deixei as pessoas procurando o que estavam precisando [e fui montando a loja]. E aí aquilo foi aumentando e chegou onde chegou. Ai saiu a papelaria, saiu brinquedos, saiu tudo isso, porque não é a gente que faz. Se você pega e fala vou abrir uma loja de tal coisa não é bem assim que funciona o comércio e não é de um dia pro outro. Como as professoras passavam e perguntavam se tinha alguma coisa, eu fui comprando material escolar. E aí livros, começaram pedir aí já ia nas editoras em São Paulo. Era tudo que pedissem. Fui formando a loja e fiquei até 2007.
 
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