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Capítulo 9 - Um dos primeiros funcionários públicos
por Gislaine Mathias/Estrela da Mogiana em 14/08/2023 A década de 1950 foi importante para que o distrito de Jaguariúna se transformasse em município. No dia 10 de abril de 1953, uma comissão encaminhava um ofício para a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, justificando os motivos para a criação do município, que aconteceu em 30 de dezembro do mesmo ano. Jaguariúna que era Distrito de Paz de Mogi Mirim conquistava a emancipação político-administrativa, através da Lei 2.456.No ano seguinte, 1954, já ocorria a primeira eleição municipal, sendo que o prefeito eleito foi Joaquim Pires Sobrinho, o Quinzinho, com 528 votos. O vice-prefeito eleito foi Carlos Turato, com 527 votos. A primeira administração ocorreu de 1955 a 1958. Naquele tempo, o eleitor votava separado para escolher o prefeito e o vice. Na primeira eleição, os dois vencedores eram do mesmo partido (PSP – Partido Social Progressista).
No ano de 1950, o distrito de Jaguariúna contava com uma população de 4.652 habitantes, sendo 3.150 pessoas na zona rural e 1502 na zona urbana, de acordo com o censo da época. No início, a prefeitura não tinha recursos financeiros e contava com poucos funcionários para os serviços essenciais. Plínio Franceschini, conhecido pelo apelido de Tuta, integrava a lista de primeiros funcionários.
Quando foi convidado para trabalhar na prefeitura, Tuta se dedicava a profissão de caminhoneiro. Na época, era mais lucrativa em comparação com o trabalho de funcionário público, mas mesmo assim, ele optou por seguir a carreira na prefeitura a pedido do pai Turno Franceschini. Ele entrou na prefeitura em 1º setembro de 1957, na administração de Quinzinho e saiu em 1º de setembro de 1985, quando o prefeito era Laércio José Gothardo.
Eu fui criado em fazenda. Fazenda Santa Isabel, em Amparo, pra lá do rio Camanducaia, dos Arruda. Eu vinha até 10 anos aqui [Jaguariúna] com meu pai [Turno Franceschini]. Ele vinha aí trazia a gente. Depois eu fui embora pra São Paulo. Fiquei quatro anos no Grupo do Ipiranga, Grupo Escolar José Bonifácio. Depois eu fiquei mais uns dois anos lá e vim embora pra fazenda. Aí o meu irmão [Macy], em [19]40 foi pro Exército. Ele foi Expedicionário e meu pai pediu pra mim vir fazer escrita da fazenda, então, eu vim embora. Aí em [19]45, o meu irmão veio do Exército, a guerra (2ª Guerra Mundial – de 1939 a 1945) estava no fim e eu voltei pra São Paulo. Em [19]49 eu cismei, vim pra fazenda de novo. Em setembro de [19]50 eu comprei um caminhão e comecei puxar fruta. A fazenda tinha mamão e eu trabalhei até [19]57. Em [19]57, o Quinzinho [Joaquim Pires Sobrinho], que era prefeito [de Jaguariúna], foi umas duas vezes lá em casa falar com meu pai. Manda ele trabalhar comigo, manda ele trabalhar comigo, mas eu ganhava bem e ele ia pagar pouco. Caminhão aquele tempo eu ganhava uns trocados bons. E ele ia me pagar naquele tempo era quatro contos. O meu pai falou vai e a gente não desobedecia o pai, ai eu larguei o caminhão pro meu irmão Nivaldo e o Ary (irmão). Em [19]57, em setembro, eu vim trabalhar na prefeitura. Eu entrei como Auxiliar de Fiscal. Fiscal era o Roberto Roscito. Eu entrei como Auxiliar de Fiscal, depois eu passei Encarregado Geral, depois eu fui Comprador e Diretor de Departamento. [Trabalhei na Prefeitura] quase 29 [anos]. Eu entrei em [19]57 e sai [19]85, com o Laércio [José Gothardo], porque aquele tempo era assim, eu era estatutário. O estatutário era 70 [anos] de idade ou 35 [anos] de serviço. Eu contei o tempo de caminhoneiro, o tempo de empresa privada, que podia contar, mas nesse meio de tempo precisou fazer as leis, então, foi isso aí que me segurou mais lá. Eu pagava aposentadoria de caminhoneiro. Aquele tempo era IAPETC: Instituto Aposentadoria [e Pensões dos Empregados em ] Transportes e Carga. Aí depois eu saí e fui trabalhar no cartório com o Ailton [José de Almeida] em Pedreira fazer intimação de protesto. Eu tinha duas aposentadorias e fui trabalhar no cartório. Ninguém gostava de fazer porque o pessoal recebia mal a gente. E eu não tinha muito medo de ninguém e agora eu tenho medo até de uma barata (risos).
Cotidiano
O nome Plínio era desconhecido entre os moradores, mas se falasse Tuta, todos conheciam. Esse apelido, ele ganhou no tempo que morava na fazenda Santa Isabel. Quando mudou para Jaguariúna, a cidade era bem diferente da atualidade tanto no asfaltamento das vias públicas como na cobrança de impostos.
Lá na fazenda tinha um casal de mineiros. Ele chamava seu Alcino e ela dona Maria. Eles vieram de Minas, não tinha filho nenhum. Ela me pegava eu e levava na casa dela passava o dia com ela. Aí no outro dia ela vinha, falava, cadê meu Tutinha? Eu vou levar ele, cadê o Tutinha? Ficou até hoje. Faz noventa anos....[A rua era] toda de terra. Só a rua do centro [Cândido Bueno] que era paralelepípedo. Aí depois o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) cobriu com o asfalto. [Energia elétrica] bem ruim, uma porcaria parava muito. Jaguariúna cresceu muito. [Fazia] cobrança de ambulante na rua. Nós tínhamos 10%, mas eu nunca recebi nada. A cobrança que nós fazíamos na rua nós tínhamos 10% por lei. Os carnês de imposto, era eu que distribuía todos. Aquele tempo tinha uns 800. Sítios e fazendas pagavam a conservação de estrada. Você não podia cobrar o outro imposto do sítio, então, era conservação de estrada. Agora aqui dentro era o Predial e o Territorial Urbano.
Sem recursos
Após Jaguariúna se tornar independente, nos primeiros anos de emancipação, as dificuldades eram grandes, pois não havia um orçamento como na atualidade para realizar todas as obras necessárias e atender os pedidos da população.
Dificuldades eram todas. O que fazia a limpeza na cidade era uma carrocinha, com um burro. Jogava o lixo ali na Galeria Ramos (naquele tempo não existiam construções no local) e depois eu fiz na [rua] Silvia Bueno tinha passagem eu pus um tubo de um metro e aí tiramos o lixo fui levar o lixo ali onde é o Dia hoje. Ali era lixeiro nosso também. Então, quem catava lixo era o tal de José Leme. Também trabalhava no matadouro. Ele trabalhava lá e depois ele já estava escalado [para] as ruas pegadas ao matadouro. Ele limpava, carpia e varria. Eu tinha quatro pessoas, cinco. Eu tinha o Zélio de Camargo, João dos Santos, que era João Coveiro, Mário Marchesini, Benedito Fernandes e o Santo Marmiroli era coveiro. Era pouquíssima gente, roçava as estradas e tapava buraco com o enxadão. Em [19]57, começo, a prefeitura comprou um caminhãozinho Chevrolet 42, de uma feirante, uma turca chamada Sofia. Aí o Vicente do Ipiranga [Vicente Maudonnet dos Santos]cedeu o motorista para o Quinzinho. E aí já melhorou. Já levava a turma lá pra roçar estrada. Aí começou aumentar, fomos aumentando e cheguei uma época que tinha uns 50 homens que trabalhavam pra mim. O Roscito saiu na segunda gestão do [Adone]Bonetti (de 1967 a 1969) e fiquei sozinho vários anos. Ai entrou o Lino Angelo, não lembro o ano que ele entrou. Depois foi o Chico [prefeito Francisco Xavier Santiago]que pôs o Santo Venturini. Aí, então, nós repartimos, eu fiquei com Obras e Compras, a estrada ficou com o Santo e a fiscalização e carpir tudo ficou com o Lino. Ai melhorou. [No início] não era fácil não, você precisava mandar um caminhão num lugar, ficar esperando pra depois fazer outra coisa. Eu fiquei quatro vezes sem receber pagamento. Quando eu trabalhava com caminhão eu tinha um pouco de dinheiro, ganhava bem. Tudo passa. Lá dentro trabalhava o Zé Poltronieri era um, secretário e tesoureiro, o Zé Geremias era contador e o Edgar Penteado era contínuo e aí depois o Bonetti pôs a Verônica dos Santos, uma moça muito competente e educada. Nós começamos em [19]57 com um caminhãozinho velho. E depois [19]62, veio uma motoniveladora doada pelo Governo Federal. O DER deu o patroleiro para ensinar, chamava de patroleiro quem dirigia [a máquina]. Eu fui lá no Monte d’ Este [fazenda em Campinas] trabalhava o Pedro Venturini de tratorista numa máquina de esteira eu trouxe ele para Jaguariúna pra aprender com a niveladora. Ele trabalhou comigo 20 anos. Mas era difícil. Água era difícil. Ali onde fica aquela banca de jornal, no jardim [Praça Umbelina Bueno] tinha um poço grande abastecia a prefeitura, o grupo escolar pra cima [Coronel Amâncio Bueno]e o jardim. E a gente que cuidava ali. Eu tinha duas bombas ali, encrencava uma ligava a outra. Quando eu comecei era poço. Cada casa tinha um poço e uma fossa pra privada. Era difícil porque geralmente o pessoal não tinha espaço pra fazer o poço longe da fossa. E o poço era sempre mais fundo e pegava a água da fossa. Aqui passava o ônibus da Posse [Santo Antonio de Posse], Bortolotto. Passava sete da manhã, vinha meio dia, ia pra Posse voltava a uma e depois voltava às 17h. A locomoção era a coisa mais difícil. Muita gente ficava esperando carona. Do serviço não [tenho saudades]. O serviço era mais puxado. Eu sempre procurei ajudar a todos. Eu tenho saudade das amizades.
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