Estrela da Mogiana

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Capítulo 21 - Os desafios de ser gerente na década de 1960

por Gislaine Mathias/Estrela da Mogiana em 26/08/2023 Arlindo Correa Nascimento na inauguração do prédio próprio da Caixa Estadual, em agosto de 1977, junto com o prefeito da época, Francisco Xavier Santiago, demais autoridades e o padre Antonio Joaquim Gomes abençoando o localNo início da década de 1960, Arlindo Correa Nascimento (in memoriam) chegou na cidade de Jaguariúna para assumir o cargo de gerente da Caixa Econômica Estadual. Nessa época, a cidade só contava com duas agências bancárias: a Caixa Econômica Estadual e o Banco Itaú, que na época tinha o nome de Banco Federal de Crédito. Nascido em Taiúva e morando em Monte Alegre do Sul, Arlindo acabou sendo transferido para Jaguariúna.

Após passar por um período de adaptação e superar os desafios de uma cidade pequena e recém-emancipada, Arlindo foi conquistando aos poucos, os moradores que passaram a frequentar o banco e se tornaram clientes. Um dos feitos como gerente foi conseguir a autorização para construção de um prédio próprio da Caixa. Ele se tornou tão popular entre os moradores jaguariunenses que ganhou o apelido de Arlindo da Caixa, que permaneceu mesmo após a sua aposentadoria, no dia 1º de fevereiro de 1980. 

 
 
  Dia 13 de setembro de 1962 eu assumi a agência de Jaguariúna, na saída de Pedreira, no prédio ligado com a coletoria que o Renato de Godoy, já era o coletor ali. Então, eu vim pra cá. E aquela casa da esquina que era do [Adone] Bonetti, ele era primo do meu sogro [Guido Beneduzzi], então, nós mudamos pra lá, na esquina [da rua Silvia Bueno com a Cândido Bueno], que por sinal, ele não cobrava nada, nem pensar em aluguel. Aí comecei aquela vidinha. Meu sogro comprou um carrinho deu pra nós. Era um carrinho importado europeu, Hillman (marca de automóvel britânica pertencente ao Grupo Rootes), de quatro portas. [A Caixa] era um período só, do meio dia as seis. No período da manhã eu fazia outras coisas. Apareceu uma pessoa aí propondo vender açúcar, óleo, e eu peguei e comecei fazer esse trabalho por fora pra ajudar porque era pequena a renda na época. Ganhava pouco. Eu vendia tapete, vendia sapato....Então, a Caixa mudou o funcionamento e a estratégia. Ia passar para empresa para poder fazer o que os funcionários mereciam. E mudou. Veio um informativo para todos os funcionários que tinham que fazer opção para a nova empresa. E o gerente era o seguinte, fazia opção e se ele não desse conta do recado era rebaixado para escriturário. Consultei a minha consciência, pensei bem, confiei no meu taco e aceitei. Isso foi em [19]75, a Caixa Econômica passou para empresa.

 
Adaptação
 
  Apesar de ser uma cidade acolhedora, Jaguariúna ainda contava com poucos recursos financeiros e os moradores enfrentavam muitas dificuldades que foram sentidas de perto por Arlindo e a família.
 

 
  O problema era acostumar aqui porque era um clima diferente. E fomos tocando. Jaguariúna tinha esse centro, a rua central era paralelepípedo, o resto era tudo terra. Sexta-feira, a prefeitura mandava molhar porque fazia poeira. Era pequeninha, mas o problema maior que a gente tinha era o seguinte, a água da cidade era salobra, mas aonde nós morávamos era poço, a água não era salobra. Todo mundo queixava que a água salobra lava fica escorregando. Pra beber nós íamos buscar água no Santa Cruz, naquela biquinha que tinha lá, mas eu fiquei conhecendo o Vicente do Ipiranga (Vicente Maudonnet dos Santos) e ele falou Arlindo, você vai buscar água na minha chácara, que era mina. Deu até uma chave. Felizmente acabamos acostumando. Essa casa [na rua Alfredo Bueno], nós mudamos em 1969. A rua era terra. Aqui no jardim era a fossa e ali no fundo era o poço. Não tinha calçada, era de terra. Não era perigoso aquela época.  Ai, meu Deus do céu! Relampeava em Campinas acabava a força aqui. A energia era fraca que não dava nem para passar roupa e chuveiro, então, não dava para esquentar.

 
Assalto
 
  Nesse período, Jaguariúna era uma cidade tranquila e pacata, onde existiam poucos registros de violência, mas Arlindo como gerente da Caixa Estadual, passou apuros quando a agência foi assaltada e ficou na mira do revólver. 

 
 
  No início da década de 70, dois bandidos puseram o revólver na minha barriga e mandou abrir o cofre. Dois senhores bem trajados e outro de manga de camisa meio baixinho. Eles entraram puseram a pasta em cima do balcão e o baixinho rendeu o guarda. Ficou do lado do guarda apontando. E eles falaram quem é o gerente? Falei sou eu. A agência era pequena e eram quatro funcionários. Eles mandaram os funcionários pro fundo e mandaram eu abrir o cofre. Eu abri o cofre e falou abaixa a cabeça, não olha em mim e põe todo o dinheiro dentro dessa pasta. Se falar qualquer coisa te faço uma peneira. Foi uma e meia da tarde. Não tinha ninguém. Fechei a agência. Já veio gente de Campinas, veio inspetor e veio o investigador. Fez todo o levantamento. Amanhã abre a agência normalmente.  Uma vez antes, nós estávamos em Monte Alegre, quando chegamos aqui de noite a agência estava com a porta aberta, mas não conseguiram entrar. Tem mais outra vez, mandaram eu beijar a parede. Na segunda vez eu fui chamado em São Paulo pro reconhecimento dos bandidos. Tudo na década de 70.

 

Mudança e curiosidades
 
Antes de ter prédio próprio, a Caixa Econômica Estadual funcionou na saída para Pedreira e ainda em mais dois prédios no centro de Jaguariúna. Um deles ficava próximo ao Bar Verde, na rua Cândido Bueno e o outro era na esquina da Cândido Bueno com Coronel Amâncio Bueno, em frente à Praça Umbelina Bueno. Na década de 1970, com o crescimento no número de clientes e de funcionários, Arlindo viu a necessidade da Caixa ter um prédio próprio, que foi construído na Praça Umbelina Bueno, bem no centro de Jaguariúna. Era um tempo que a agência também contava com funcionários de Campinas até que Arlindo conseguiu bancários da própria cidade.
 
 
  Quando eu assumi eu peguei uma coisa completamente diferente, da água para o vinho. Tinha dia que quando dava muito dava três, quatro movimentos. Uma coisa interessante. Naquela época chegou num momento que a gente não conhecia ninguém e a cidade pequena. Aquele carrinho serviu pra mim e eu comecei fazer visitas nos sítios e nada não crescia a agência. Fiquei apavorado, mas me estalou uma coisa essa agência está mal localizada. Não tinha movimento e consegui autorização para locar esse prédio para a Caixa Econômica, entre o Bar Verde e a sorveteria do Tonini. A turma tinha medo de banco e comecei trazer muita gente pra Caixa. Como o gerente tem que ser relacionado automaticamente procurei fazer amizades pra trazer os clientes. Naquele tempo era pouca gente, mas eu fazia o que podia. E aí a agência começou a crescer. Eram um ou dois funcionários, éramos três depois veio quatro....Até chegar num ponto que eu arrumei dez funcionários da cidade  para trabalhar e os outros de fora foram todos embora. Estoura ficar uma fila na rua e lá vai o Arlindo pra São Paulo conversar com o diretor de planejamento: Jaguariúna precisa de um prédio próprio porque lá está apertado e já tem seis agências bancárias. Tem a Bamerindus, tinha Unibanco, Banco de Estado, Itaú, Caixa Econômica Federal.....Tinha seis agências. Isso foi na década de [19]70. Conseguimos um prédio próprio.  Comecei levantar o prédio e ficou prontinho. Houve até inauguração no mês de agosto de 1977. A inauguração foi um estouro. Vinha a diretoria toda. Banda de música, rojão, barraca de cachorro quente e guaraná. Numa sexta-feira o jardim encheu. A Agência encheu. Primeiro puseram dois soldados lá na frente e a fita pra cortar. Cortamos a fita. E a noite foi dado um jantar pra diretoria completa, nas Duas Marias. O jantar começou às oito e meia da noite amanheceu o dia. Daí um ano e meio deixei aquele prédio bonito. Esse prédio novo, uma funcionária falou pra mim, seu Arlindo, o senhor não acha que na porta da frente o senhor deve por uma faixa assim, de cor vermelha, pra saber que é vidro? Boa sugestão. Não demorou muito uma determinada pessoa da cidade entrou lá e nele sair ele abaixou e pá quase caiu de costas, ele baixou pra passar por baixo, ele viu a fita ai meu Deus, foi só risada, ele falou um palavrão feio, mas foi só risada. Essa foi interessante. Aqui, tinham três turmeiros que nessa hora de noite [por volta das 18h30] apareciam com aquela dinheirada, seu Arlindo amanhã, o senhor põe na Caixa pra mim, mas naquele tempo não tinha esse negócio de assaltar casa. Olha que confiança? Foi a primeira agência de prédio próprio, foi a Caixa. Está na placa inaugurado o prédio no mês de agosto de 1977.
 
Família Arlindo
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