Estrela da Mogiana

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Capítulo 23 - Beneficiadora de arroz e moinho de fubá

por Gislaine Mathias/Estrela da Mogiana em 28/08/2023 Rubens Frazato a cavalo, em frente da porta da beneficiadora de arroz e do moinho de fubá, do seu pai João, na década de 1940 (Acervo Casa da Memória Padre Gomes)A família de Rubens Frazato saiu da Itália, com destino ao Brasil, para trabalhar com a terra. O primeiro destino foi a Fazenda Fortaleza, no município de Pedreira. Eles trabalharam como colonos, depois passaram para meeiros até que compraram o sítio Bela Vista, com mais de 87 alqueires, no distrito de Jaguariúna. Com o passar do tempo, João Frazato, pai de Rubens, ainda permanecia no Bela Vista até que resolveu fixar residência, no centro do distrito de Jaguariúna, para se dedicar ao trabalho na beneficiadora de arroz e moinho de fubá
 
 [No sítio Bela Vista] meu pai trabalhava com lavoura. Plantava arroz, milho, feijão, tinha pomar de laranja, tinha manga, goiaba, criava porco, galinha, tinha éguas, cavalos, bois e vacas. Meu pai fazia linguiça, queijo, era vida do lavrador, do roceiro. Quando eu vim pra Jaguariúna eu tinha seis pra sete anos de idade e muita coisa no Bela Vista (na época falava sítio e hoje é chamada de fazenda) eu não me lembro. Eu me lembro bem que eu ia brincar no meio dos porcos, no meio das vacas, eu entrava no meio da criação. Tinha uma irmã que era brava chamava-se Odila. Ela batia e tinha uma palmatória. Era sola de sapato de couro e fazia o couro cantar. Dizem eles que eu era arteiro, mas que eu me lembre não. (risos).
  A primeira casa que nós moramos, ali eu me casei e nasceu os meus filhos também, na [rua]Júlia Bueno, esquina com Cândido Bueno, que hoje tem a imobiliária Fernandez, o (antigo) açougue do Carneiro e a Albiati. Na esquina de cima (tinha) o Supermercado Ferrari (hoje é um comércio) e na mesma rua minha tinha a esquina do Bar São João ainda existe. 
   Que eu me lembre, Jaguariúna tinha a parte do miolo onde está a Igreja Centenária [de Santa Maria]. Ali onde é a TC [Imóveis] hoje, era o armazém do seu Alfredo Chiavegato, pai do (ex-prefeito) Tarcísio Chiavegato. Ali na frente tinha dois postes aonde seguravam os transformadores de energia elétrica que alimentavam toda Jaguariúna. Levantava uma nuvem lá em Monte Sião apagava a luz em Jaguariúna (nessa época a iluminação era bastante precária). Quando chegava seis horas da tarde, Domingos Benedito, seu Dominguinhos pegava um bastão comprido com um gancho na ponta. Ele ligava a chave para acender as lâmpadas das ruas. Quando era 6 horas da manhã ele ia lá para desligar porque não era automático. Só que as lâmpadas eram fraquinhas e as ruas eram escuras.
 
Bomba de gasolina
 
Como ocorria com grande parte das crianças de antigamente, Rubens começou trabalhar muito cedo e o primeiro emprego foi numa bomba de gasolina, de propriedade de Aristides Rizzoni, que ficava na rua Cândido Bueno. Era uma época que não existia posto de gasolina.
 
   Eu trabalhei numa bomba de gasolina que ainda era braçal. Eu rolava o tambor de gasolina de 200 litros, com 10 anos de idade, para abastecer o tanque da bomba de gasolina do seu Aristides Rizzoni. A bomba bombeava manualmente 5, 10, 15 e 20 litros. O depósito dos tambores ficava em frente à minha casa [rua Julia Bueno]. Tem um corredor que existe até hoje era onde o caminhão descarregava os tambores cheios de gasolina.
 De lá eu pegava o tambor cheio rolava até embaixo na calçada na rua, descia e virava a esquina do Bar São João, subia e rolava o tambor até na frente do depósito de gasolina [na rua Cândido Bueno], erguia o tambor, botava um cano na boca do tambor, punha um pano em volta para não escapar o ar e assoprava no respiro, ali a gasolina descia no tanque e depois eu abastecia os carros. Eu tinha muita força e era um menino muito forte.
 Depois eu pegava o tambor vazio, eu subia em cima do tambor, com os pezinhos eu vinha em cima do tambor, virava a esquina e vinha até o corredor aonde subia para o depósito dele. Ai eu descia empurrava o tambor porque a terra era muito irregular e não dava para equilibrar.
  Não tinha muitos carros em Jaguariúna, eram poucos. E alguns que passavam de fora e paravam para abastecer. O meu primeiro trabalho foi esse. Dali eu saí e fui para a fábrica de porcelana [Cerâmica Santa Maria] e ali eu trabalhei quatro anos. Eu queria trabalhar e não queria saber de ficar na rua. Daí fui trabalhar com Achiles Bodini no barracão de embalar laranja. Ás vezes faltava ajudante eu ia pra São Paulo com o motorista de caminhão.
 
Beneficiadora e moinho
 
  João Frazato seguiu o caminho do comércio trabalhando com beneficiadora de arroz e moinho de fubá, que ficavam na rua Julia Bueno, e que depois passou para o filho Rubens que se aposentou no negócio. Rubens também trabalhou como antenista por muitos anos.
 
   Meu pai eu não me lembro bem se foi [19]44 ou 45 que ele comprou ai. Quando ele comprou o dono era Pedro Maião. Quem começou fazendo o serviço foi meu irmão Jair Frazato. Com o tempo, ele comprou um carrinho de praça, ficou para um irmão que chama Clemente. Ele foi embora para São Paulo e quando eu consegui pegar a máquina que eu completei os 18 anos, aí eu assumi a firma e a família. Peguei a beneficiadora aonde eu fiquei 31 anos ali e me aposentei.
  O povo era acostumado assim: eles vinham na beneficiadora trazia o arroz em casca, as vezes 30 quilos, 60 quilos ou mais. Pagava o serviço da beneficiadora. E vinha com o milho debulhado, punha numa medida, passava a régua em cima (colocava o milho passava a régua para ficar no mesmo nível do pote) e eu dava a mesma quantia em fubá ou em quirela, então, era trocado por medida. Não tinha dinheiro no meio. Dava cinco litros de milho eu dava cinco litros de fubá ou cinco litros de quirela. 20 litros de milho, 20 litros de fubá ou 20 litros de quirela, era assim que funcionava, por medida. O lucro nosso era a porcentagem que o milho ia render na moenda. Vendia por quilo também, vendia o quilo de fubá e da quirela, então, a gente fazia os cálculos para poder ter uma margem de lucro, e assim funcionava. O próprio milho dava margem de lucro porque no moer, por exemplo, 20 litros de milho, depois de moído ele ia dar 28, 27 litros, aquele lá era o lucro da firma não cobrava valores financeiros em cima da troca, só fazia a troca. Era na Rua Júlia Bueno, 303, o número antigamente, em frente com o Bar São João, aonde [era] o açougue do Carneiro.
 
Carrinho e futebol
 
No tempo de criança, ele conhecia as ruas do distrito através de várias brincadeiras, como, nadar no rio, soltar papagaio, jogar bolinha de gude e pega pega. Era um tempo que as crianças brincavam livremente na tranquila Jaguariúna. O futebol ainda fez parte da adolescência e da fase adulta de Rubens.
 
  Eu gostava de brincar com carrinho de quatro rodas. Eu fiz um carrinho, eu mesmo criança ainda. Eu ia lá em cima onde é a Delegacia hoje, de lá eu descia, eu virava ali na esquina onde tem a [loja] Rossimar passava na frente da Escola Coronel Amâncio Bueno (atual sede da Prefeitura de Jaguariúna), virava, descia ali onde é o Banco Itaú, pegava a Cândido Bueno descia, eu ia parar lá na frente do Bortolettão, com o carrinho de quatro rodas. Eu, Moacir [Matias] e Lúcio Mussato fazia isso.
    Quando éramos criança brincávamos muito de pega. Saia da praça [Umbelina Bueno] e ia até a fazenda Serrinha [antiga Florianópolis], corria à vontade. Era difícil para o pega conseguir pegar todos. Também a noite, minhas irmãs tinham as amigas delas, formava uma rodinha de cinco, seis, oito meninas, oito horas da noite e eu entrava no meio bater peteca, era maravilhoso. Peteca que a gente batia era de palha de milho e pena de galinha. Aquele que deixava cair saia fora até sobrar dois para ver quem ia vencer.
   Eu participei do juvenil da União Esportiva Jaguariense e depois comecei jogar no Aspirante da União. Os outros foram pra titular e como eu era mais perna de pau eu fiquei no time reserva. No campo da União Esportiva, no fundo morava a família Carvalho Mineiro. Acabava o primeiro tempo ia todo mundo lá na casa tomar água, era água de poço, puxava a água dava a água pra turma e voltava pro campo. Nós saíamos do munícipio ia jogar em Pedreira, Santo Antonio de Posse, Socorro e em Amparo. No começo podia ir com o caminhão, era o pau de arara, punha a lona e aquele banquinho duro. Depois cortaram aí passou ir de carro.
 
 
Família Rubens Frazato
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