Estrela da Mogiana

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Profissional experiente no ensino do Xadrez analisa o sucesso da minissérie O Gambito da Rainha

por Gislaine Mathias/Estrela da Mogiana em 03/02/2021 Adinã Leme se dedica ao ensino do Xadrez há cerca de 40 anos A minissérie O Gambito da Rainha vem despertando a atenção de pessoas de todas as idades e proporcionando um crescimento na procura pela modalidade xadrez.
 
Interpretada por Anya Taylor-Joy, a produção destaca a história de Beth Harmon, uma menina órfã que se revelou prodígio no xadrez e queria se tornar a melhor do mundo. Ao mesmo tempo, ela tinha que lidar, simultaneamente, com um vício que adquiriu enquanto estava no orfanato.

A minissérie O Gambito da Rainha é inspirada em um livro do mesmo nome publicado pelo autor norte-americano Walter Tevis em 1983. A produção pode ser assistida na Netflix.
 
Mas como essa minissérie vem impactando na prática da modalidade? Para comentar sobre esse assunto, a reportagem do site Estrela da Mogiana, entrevista o professor de Educação Física, pós-graduado em Metodologia de Treinamento em Futebol e Futsal e em Pedagogia do Esporte e ainda pós-graduado em Docência do Ensino Superior e professor da UniFAJ, Adinã Leme. Ele ainda tem experiência com ensino de xadrez há mais 40 anos.  
Interpretada por Anya Taylor-Joy, a produção destaca a história de Beth HarmonEstrela da Mogiana - A minissérie O Gambito da Rainha vem ganhando grande repercussão. Na sua opinião, o sucesso da série já está contribuindo para uma maior popularidade do xadrez no Brasil?
 
Adinã - O Gambito da Rainha (minissérie da NETFLIX) contribuiu e muito nesses últimos dias para o crescimento e envolvimento do xadrez no mundo todo. Aqui no Brasil, além do aumento das vendas do jogo, aumentou a procura por aprender, estudar e até jogar xadrez.
 
Estrela da Mogiana - Na sua opinião, o que vem tornando a série esse sucesso?
 
Adinã - A abordagem principal do filme é o jogo do Xadrez, mas a diferença desta série para os demais filmes da modalidade que existem, é o envolvimento de outras questões existentes na sociedade, que fica evidenciado e que sempre está sendo discutido, como as dificuldades de adoções de crianças negras e de idade avançada, o patriarcado no ambiente do jogo, onde o domínio do homem sempre foi latente, o vício em drogas e outras dependências, como o alcoolismo e a exclusão da sociedade, a perseverança e a vontade de vencer, juntamente com uma história perfeita e bem elaborada durante as partidas do xadrez ambientada na década de 60, onde existia o confronto da Guerra Fria entre USA X URSS, isso fez com que prendesse a atenção das pessoas, inclusive daquelas que não tinha ligação ou conhecimento algum com o jogo de Xadrez.
 
Estrela da Mogiana - O que mais te chamou a atenção na minissérie?
 
Adinã - A série é toda interessante e quem é do ambiente do xadrez se identifica com alguma coisa. Eu, particularmente, o que chamou a atenção foi exatamente o primeiro contato que a personagem Beth Harmon teve com o xadrez, juntamente com seu primeiro professor que era o auxiliar de serviços gerais do orfanato e depois de toda sua conquista e fama, jamais o esqueceu.  
 
Estrela da Mogiana -  A presença da mulher no jogo do xadrez está crescendo cada vez mais no Brasil ou ainda é tímida? E a minissérie pode contribuir para o maior interesse do público feminino?
 
Adinã - Temos excelentes mulheres enxadristas pelo Brasil, como Juliana Terão, Kathie Librelato, Julia Alboredo, Suzana Chang e outras, mesmo assim, a presença feminina é pequena. O Brasil ocupa o 19º lugar de quantidade de enxadrista TOP no mundo, em 1º lugar está o Vietnã. Percebemos essa inferioridade das participações femininas nos projetos de xadrez e também nas competições. A minissérie provavelmente poderá ajudar e muito, mas também tem que partir de incentivo da própria sociedade.
É importante incentivar a prática do Xadrez desde criança Estrela da Mogiana – Na sua opinião, o que poderia ser feito para que o xadrez tivesse mais adeptos em Jaguariúna e no Brasil?
 
Adinã - O xadrez no Brasil está caminhando muito bem. Percebem-se muitos projetos escolares, em clubes e academias. No 8º Encontro Anual de Alunos de Xadrez do Programa Heróis do Tabuleiro, da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro em 2019 foi registrado a presença num só dia, de dois mil alunos de xadrez da rede municipal. Existem competições todos os dias e também nos finais de semanas. Existem ofertas de bolsas de estudos em escola particulares também universitárias para jovens com grande capacidade de desenvolvimento no xadrez.  Nesse período da Pandemia, os encontros passaram ser de forma online e as competições continuam juntamente com as premiações. Já, outras cidades são mais lentas em assimilar a importância, talvez por ignorância dos fatos ou então por não dar tanta importância com tais benefícios. Considero Jaguariúna uma cidade de grande potencial esportivo, principalmente nos jogos de tabuleiros. Tenho projetos em escolas particulares, desde 2015 e acompanho o potencial e crescimento destes jovens que sempre me acompanharam em competições. Gostaria muito de expandir para as escolas municipais da cidade. Estou sempre lutando para que um dia o setor da Educação, ou da Cultura ou do Esporte tenham um olhar melhor sobre a importância e seus benefícios. É uma luta diária!
 
Estrela da Mogiana – Qual a importância da prática dessa modalidade desde criança?
 
Adinã - Xadrez é considerado esporte como outro qualquer, a diferença é que ele concentra mais as forças no uso cognitivo, na concentração e raciocínio lógico, mas seus benefícios são tão iguais como os demais esportes, melhorando a capacidade cognitiva, raciocínio lógico, estratégia, se aprende a ganhar e perder, o respeito às regras e também aos adversários, etc. Tudo isso são adjetivos que todos os esportes proporcionam e não é característica tão somente do xadrez, a única condição particular dessa modalidade é o desenvolvimento da “autonomia”; a criança aprende por meio do xadrez que, uma ação tomada é responsabilidade única dele, ou seja, um movimento de peça errada, ninguém poderá ajudá-lo, ele terá que encontrar uma solução ou saída plausível para aquilo - este é o grande aprendizado que ele leva para toda a vida, mas os benefícios maiores estão concentrados para o público adulto. Ele é um suporte gigante, para pessoas com depressão e também exercício para o mal de Alzheimer, e para as pessoas especiais, com espectro de Autismo, Asperger, Síndrome de Down, suas contribuições são gigantescas. 
Torneios e campeonatos movimentam enxadristas pelo Brasil e Jaguariúna já sediou competiçõesEstrela da Mogiana – O xadrez na escola seria uma maneira de difundir o esporte? E qual seria a contribuição da modalidade em sala de aula?
 
Adinã - Em 2019 participei na implantação de alguns projetos de xadrez escolar em algumas cidades e tenho agendado para implantar este início de ano em duas, nas cidades de Lins e Sumaré.  Percebo que isso cresce gradativamente. O xadrez dentro da escola pode ser visto de diversas maneiras, como, ciência, arte, lazer e esporte. O aluno que participa do desenvolvimento das ações do xadrez dentro da escola, desde que o projeto seja abrangente, se envolve com o conhecimento cultural e histórico do jogo, compreendendo a importância da sua história e suas transformações até tempos atuais, tendo assim uma análise crítica da transformação da sociedade diante do jogo; aprende a construir seu próprio jogo, por meio de manuseios de materiais desenvolvendo habilidades artísticas, aprende a conhecer os estudos e a importância das descobertas através dos séculos e por fim o jogo como lazer (passatempo) ou como esporte (estudos e treinamentos). A proposta disso tudo é a formação crítica, capacitada e desenvolvimento da inteligência do aluno, portanto, o xadrez na escola apresenta uma ligação entre diversas disciplinas, principalmente no gosto pela História, Matemática, Geografia, Arte e também na Educação Física, tornando assim uma ação multidisciplinar.    
 
 
 
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