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Especialista analisa crescimento das fake news e como combater o seu impacto na sociedade

por Bruno Giannini em 14/10/2019 Cristina Schachitz tem experiência nessa área e faz uma análise do crescimento das fake news no Brasil (Foto de Otávio Maximo)O termo Fake News vem da língua inglesa (notícia falsa) e se remete à toda e qualquer informação publicada, principalmente, mas não exclusivamente, em mídias digitais, que não são verdade, ou são distorcidas para favorecer alguém ou algo.
 
Este tipo de notícia sempre existiu, mas com advento da internet e das redes sociais, ficou muito mais fácil a divulgação em massa de informações falsas.
 
Os criadores e propagadores de Fake News geralmente têm a intenção de ganhar dinheiro, conseguir mais acessos e likes, chamar a atenção do público ou até tentar influenciar pessoas para pensar de determinada forma.
 
Aliás, as fake news, tão populares na política durante as últimas eleições, também estão firmes e fortes no campo da saúde. As informações falsas são um perigo, principalmente nessa área.
 
Por exemplo, uma reportagem sem fonte, possivelmente inventada, pode ser responsável por vários problemas de saúde e até pela morte de alguém.
 
É preciso responsabilidade: os especialistas afirmam que a população precisa aceitar que fake news existem e saber se defender delas. Não importa se veio da sua avó, de um tio ou do seu melhor amigo.
 
A reportagem do site Estrela da Mogiana conversou com a especialista em reputação e comunicação corporativa, Cristina Schachitz, que também atuou como vice-presidente brasileira da Edelman, agência multinacional de Relações Públicas sobre o porquê das fake news estarem tomando tanta força e apontou caminhos para combatê-las.
 
Estrela da Mogiana - Os psicólogos chamam de “viés de confirmação”: a tendência que nós temos de aceitar as informações que dão suporte a nossas crenças e de rejeitar aquelas que as contradizem. Essa tese explicaria o porquê das maioria das pessoas não distinguir jornalismo de boato?
 
Cristina Schachitz - Acredito que esta tese explique em parte este comportamento. Hoje vivemos em uma sociedade muito polarizada, em que as pessoas têm pouco cuidado ou respeito em relação a opiniões diversas das suas. Assim, o indivíduo crê naquilo que o seu grupo de iguais acredita. Com a facilidade da disseminação de informações, seja por redes sociais ou aplicativos de mensagens, ficou ainda mais fácil a distribuição de informações - e vindo de grupos ou pessoas com os quais a pessoa se identifica, ela tende a acreditar, sem a preocupação da checagem. A tendência, de acordo com a pesquisa Trust Barometer, realizada pela empresa de comunicação Edelman, é as pessoas confiarem mais nos seus iguais, em "uma pessoa como eu".  Desta forma, estes outros fatores podem complementar a explicação deste comportamento ao lado da explicação dos psicólogos que você destacou em sua pergunta.
 
Estrela da Mogiana - Pra gente entender um pouco mais sobre o Trust Barometer, que você mencionou, em quantos países ele se faz presente, qual é a metodologia adotada para a pesquisa e quais dados foram aferidos em 2018/19 sobre a disseminação das fake news no Brasil?
 
Cristina Schachitz - O Edelman Trust Barometer é uma pesquisa anual de confiança e credibilidade, realizado pela agência de pesquisa Edelman Intelligence, que mede a confiança das pessoas na imprensa, nas empresas, governo e ONG. É realizada globalmente, com questionário online. A pesquisa 17/18 foi a que trouxe os dados sobre fake news e mostrou que, no Brasil, 67% das pessoas comuns não sabem distinguir o bom jornalismo de boatos ou mentiras. Na edição 18/19, o tema foi abordado de maneira tangencial quando revela que 65% dos brasileiros concordam que os CEOs podem gerar mudanças positivas em relação à Igualdade Salarial, 61% em relação ao Preconceito e Discriminação, 61% em relação à Formação para Empregos Futuros, 57% em relação ao Meio Ambiente, 53% em relação à Informações Pessoais, 48% em relação às Fake News e 44% em relação ao Assédio Sexual. O interessante deste dado, é que as fake news deixaram o ambiente da imprensa e passaram a ser vistas também como responsabilidade das empresas, sendo esperado por 48% dos respondentes que as companhias, no papel de seus dirigentes, contribuam para o combate das notícias falsas.
 
Estrela da Mogiana - Entre governo e mídia: quais dessas instituições são as mais impactadas pela disseminação das fake news?
 
Cristina Schachitz - Os governos, por um lado, sendo o alvo destas fake news, e a mídia, por outro, perdendo credibilidade. Veja que vem crescendo o esforço da imprensa para checagem dos fatos, o que, na minha opinião, nunca deveria ter diminuído, mesmo com a urgência da publicação e a necessidade dos "furos".
 
Estrela da Mogiana - A desinformação, associada ao conservadorismo que assola o Brasil e o mundo, em que a ciência está sendo desacreditada, acaba sendo um campo fértil para a disseminação de mentiras?
 
Cristina Schachitz - Não vejo estes como os principais fatores. A desinformação, somada à falta de educação, no sentido do que se aprende nas escolas, tem campo fértil para se disseminar no mundo em que vivemos:  muita gente "falando" ao mesmo tempo, falta de interesse de checar dados, conforto com a "segurança" de que a informação divulgada por pessoas em quem eu confio seja verdadeira. Mesmo em relação às ciências e o que se divulga temos que ter muito cuidado. Veja quantos textos com estudos (falsos) denunciam que este ou aquele produto causa câncer, e que por se referir de maneira irresponsável e mentirosa a universidades internacionais ou renomados cientistas, passam a ter uma roupagem da verdade? Quanto estamos retrocendo em relação a erradicação de doenças por causas de notícias mentirosas sobre as vacinas?
 
Estrela da Mogiana - Como as fake news podem acabar com a reputação de uma empresa/negócio? Como minimizar os impactos negativos?
 
Cristina Schachitz - A disseminação destas notícias falsas é muito rápida e quase impossível de ser monitorada ou rastreada. A empresa/negócio devem se preparar para tal possibilidade, seja uma companhia grande ou a padaria do bairro. Todos estão sujeitos a boatos e a pessoas mal intencionadas. Se preparar quer dizer reunir o grupo de executivos, discutir os riscos, conhecer suas vulnerabilidades e ter agilidade nas respostas para seus públicos mais estratégicos - começando pelos empregados e clientes. Mesmo que a empresa não tenha todas as informações que gostaria para esclarecer um boato, quanto mais cedo ela começar a se manifestar, melhor. E sempre de maneira cautelosa, verdadeira e com abertura para o diálogo.
 
Estrela da Mogiana - A "educação virtual" seria uma arma importante para detectar informações falsas no noticiário? Essa “alfabetização” deveria contar com esforços de vários setores da sociedade, para evitar que as chamadas fake news tumultuem o debate público, a exemplo do que ocorreu na última eleição presidencial do Brasil?  E a quem caberia esse papel? Teria que vir da grande imprensa, da escola ou da família?
 
Cristina Schachitz - A "educação virtual", como você chamou, é importante desde cedo para aprendermos e ensinarmos a nos proteger de sites impróprios, vírus,  ladrões de senhas e invasão de privacidade - tanto crianças como os analfabetos digitais deveriam ser bombardeados o tempo todo com este tipo de informação.
Em um segundo momento (ou ao mesmo tempo, dependendo da idade) , deve acontecer esta alfabetização virtual - já que nem tudo que a gente lê é verdade, seja na internet e até mesmo na imprensa. Isto serve tanto para nos proteger das fake news em processos eleitorais como em assuntos de saúde, como no caso das vacinas, ou outras brechas para disseminar lendas urbanas. Mais uma vez a responsabilidade é da sociedade - governos, escolas, imprensa, ONGs, família - e de cada indivíduo, seja checando alguma informação antes de repassar, seja ajudando os menos informados. Temos que assumir esta responsabilidade individualmente.
 
 
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