Memórias de Jaguariúna

Padre da paróquia de Santa Maria esclarece polêmica do sino da Matriz Centenária

por Bruno Giannini em 27/07/2018 Matriz Centenária é marco da história de fundação de JaguariúnaJaguariúna continua em polvorosa com a notícia de que o advogado e procurador concursado da Prefeitura, André Brogim Silva, 28, entrou com representação no Ministério Público, solicitando informações e pedido de intervenção para que os sinos da Matriz Centenária de Santa Maria fossem silenciados.
 
O documento foi datado em 3 de julho de 2018, e traz como assunto, descumprimento por parte da igreja das normas do Código de Posturas do Município relativo à preservação ambiental, no que toca a poluição sonora e sossego. De acordo com documento, a promotora Flavia Travaglini Zulian, solicita esclarecimentos acerca dos fatos da representação, bem como as providências para a solução da questão.
 
Por se tratar de um patrimônio histórico do município, com forte simbologia religiosa, cultural e ligado à memória afetiva das pessoas que, nasceram e cresceram embaladas pelo som cotidiano do carrilhão da paróquia, demarcando suas atividades cotidianas, a informação acirrou os ânimos não só nas rodas de conversas dos pontos de ônibus e demais espaços públicos, mas principalmente nas redes sociais.
 
Indignadas, as pessoas externaram de forma praticamente unânime e, de maneira quase que passional, a mesma opinião: o sino deveria, imediatamente, voltar a tocar. Com a intenção de apurar criteriosamente as informações, o site Estrela da Mogiana ouviu o pároco Milton Modesto. Indagado sobre o episódio, o religioso ponderou alguns aspectos esclarecedores sobre o fato.
 
"O procurador inicialmente teve uma conversa informal comigo e solicitou, na condição de cidadão comum, que as badaladas fossem cessadas das 22h às 7h, alegando que tinha dificuldade para dormir em razão do som, pois mora no prédio perto da igreja. Foi então que expliquei a ele que poderíamos entrar em um acordo, buscar uma solução que fosse viável a ele, mas que, ao mesmo tempo, não desapontasse os católicos e também os tradicionalistas da cidade. Porém, eu deixei claro que, antes de qualquer coisa, eu precisaria consultar o pessoal do Patrimônio Histórico, até porque a Igreja Centenária, bem como os sinos são, respectivamente, patrimônios material e imaterial do município", frisou.
 
Entretanto, segundo o sacerdote, o advogado não esperou que as pessoas envolvidas com as questões de preservação do patrimônio fossem consultadas. Segundo o padre, o funcionário público entrou com uma representação junto ao Ministério, baseando-se em dois artigos do Código de Posturas do Município, de 2007.
 
De acordo com o Código, artigo 94, é proibido executar qualquer trabalho, serviço ou culto religioso que produza ruído ou que venha perturbar a população, antes das 7h e depois das 22h. Já o artigo 108, citado na representação, diz que é expressamente proibido perturbar o sossego público com ruídos ou sons excessivos ou evitáveis.
 
Mas Milton Modesto enfatiza que no documento constam determinações da justiça para que as partes envolvidas cheguem a um denominador comum à resolução da questão. “Nada foi determinado no sentido de que o sino fosse calado. Não foi isso que aconteceu. Eu, por bom senso, resolvi suspender a emissão do som até que a situação tivesse um desfecho legal, que fosse resolvida legalmente, em sua totalidade, ou seja, tomei essa decisão em respeito à lei e principalmente em cumprimento ao Código de Posturas do Município", esclarece.
 
Portanto, ainda de acordo com o padre, independente da legitimidade da repercussão, é importante separar o joio do trigo e ter discernimento e bom senso para entender o que realmente aconteceu.  "Fiquei feliz em saber que as pessoas têm esse respeito pelo sino, que, além de ser um símbolo católico, se remete à cultura e história de Jaguariúna. Mas quero deixar claro que não houve ordem judicial efetiva para que as badaladas fossem interrompidas. Mais uma vez eu afirmo: resolvi interromper as badaladas para que o problema fosse resolvido de forma sensata e obedecendo à lei municipal", conclui.
 
E ao que tudo indica, o impasse pode estar próximo de uma resolução. Na tarde desta quarta-feira, 26, os padres Milton Modesto, Carlos Roberto de Oliveira e José Siqueira Barbosa, estiveram reunidos com o prefeito Gustavo Reis, com a vice-prefeita Rita Bergamasco, além da secretária de Turismo e Cultura, Maria das Graças Hansen Albaran dos Santos.
 
O encontro, que também contou com a presença de representantes da comunidade católica e do conselho responsável pela preservação dos patrimônios históricos e culturais da cidade, teve como objetivo, de acordo com Gustavo Reis, em vídeo postado na sua página pessoal do Facebook, “construir conjuntamente uma solução que atenda ao interesse público dos cidadãos de nossa cidade e ao mesmo tempo respeite nossas raízes e tradições”.

A reportagem do site entrou em contato por telefone com o funcionário público, mas até essa publicação, não havia retornado a ligação. O padre foi categórico ao afirmar para a reportagem que o sino não voltará a tocar enquanto a lei não for modificada e sancionada, pois a sua intenção é cumprir rigorosamente a lei.
 
 
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