O repique dos sinos na torre da Igreja Centenária na cidade de Jaguariúna
por Gislaine Mathias/Estrela da Mogiana em 24/05/2017 A torre da Igreja Centenária de Santa Maria guarda sinais de uma antiga comunicação entre as pessoas, no tempo que Jaguariúna era uma vila e depois se tornou Distrito de Jaguary.No passado com mais frequência e no presente em ocasiões especiais, o repicar dos sinos era a forma de convidar a comunidade para missas e festas e até avisar sobre falecimentos.
Já na atualidade, eles ainda tocam em ocasiões especiais.
Os sinos mais antigos foram colocados na torre da igreja no ano de 1929. Já em 1949, a igreja recebeu mais três sinos de carrilhão que estão instalados até hoje numa estrutura de madeira.
De acordo com Moacir Matias, que na época tinha 15 anos e ajudava o marceneiro Ettore Tozzi, a armação de madeira foi preparada na oficina e depois transportada numa carrocinha puxada com a mão, sendo carregada de duas a três peças de cada vez, pois naquele tempo não tinha outro tipo de condução. A madeira utilizada foi a Peroba, considerada madeira de lei e muito resistente.
Ele conta que foram utilizadas cordas para subir as peças de madeira na torre, sendo que dois ficaram dentro da torre para puxar cada vigota e outro embaixo guiando a corda para não danificar a parede da igreja. Em seguida, foi montada a estrutura para colocação dos sinos na torre utilizando as madeiras que já estavam numeradas. “Tudo foi feito à mão, pois não haviam máquinas”, completou.
Comunicação
Segundo o diretor do patrimônio histórico municipal e coordenador da Casa da Memória, Tomaz de Aquino Pires, existem informações que foram construídos andaimes de eucalipto para conseguirem subir os sinos até a torre da igreja. Ele relatou que os sinos eram o centro da comunicação auditiva e cada toque tinha um significado.
“O toque muito alegre chamava para as missas e rezas; havia o sino da Ave Maria às 6h e 18h, então, cada família rezava e era uma devoção, pois as crianças já cresciam com a educação religiosa e amor ao próximo. Também havia a alvorada e o toque do sino triste para enterro”, contou Tomaz completando que os cortejos saiam da igreja ao som dos sinos e seguiam a pé até o cemitério.
“Conforme o féretro ia descendo a Rua Cândido Bueno todos os comerciantes fechavam as portas em sinal de luto e respeito”, frisou Tomaz completando que uma tradição que permanece até hoje é o anúncio de falecimento no alto falante da igreja. “A cidade não se sente avisada no caso de não ser comunicada através do alto falante”, enfatizou.
Fase atual
Daniel Marion é responsável por tocar o sino em ocasiões especiais, na atualidade. “Minha família sempre foi muito religiosa e eu morava na casa vizinha da igreja. Fui coroinha e nessa convivência eu achava bonito o toque do sino. Eu tenho uma veia musical e os sinos são instrumentos musicais e possuem cinco notas. Eu sempre imaginava como era o funcionamento e num determinado dia subi a escadaria e toquei o sino”, relatou.
Ele recordou que algumas pessoas já tocaram os sinos no passado, como, Eduardinho Tozzi, Dinho Rossiti e Augusto Lana. Ele destacou que são poucas igrejas que mantém essa tradição igual a de Jaguariúna. “A maioria tem os sinos, mas não tocam, ou está automatizado ou então colocam uma gravação com alto falante. Mas não tem aquele romantismo e aquela beleza do sino tocado a mão”, frisou.
Segundo Daniel o sino é historicamente um meio de comunicação entre as pessoas. “E ainda permanece em ocasiões especiais e através do relógio que aciona um dos sinos. Essa tradição é mantida pelo esforço de Moacir Mantovani que continua semanalmente fazendo a manutenção do mecanismo que aciona o sino e relógio, então, a torre ainda se comunica com a população”, enalteceu.
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