Memórias de Jaguariúna

A antiga tradição dos torneados em madeira na cidade de Jaguariúna

por Gislaine Mathias/Estrela da Mogiana em 09/04/2017 arquivo sem legenda ou nomeUma arte que exige habilidade e uma tradição que resiste ao tempo e a modernidade.

Antigamente, Jaguariúna era conhecida pelas peças torneadas e os pontos de venda eram as estações ferroviárias de Jaguary e de depois de Jaguariúna, em diferentes épocas.

O diretor do patrimônio histórico municipal e coordenador da Casa da Memória, Tomaz de Aquino Pires ressaltou que é uma tradição muito antiga. “Os imigrantes italianos vieram trabalhar nas fazendas de café e compraram as suas próprias terras, mas outros foram se dedicar ao comércio, na Vila Bueno e depois Distrito de Paz de Jaguary, exercendo profissões executadas pelos pais na Itália, como sapateiro, padeiro, marceneiro e outros se tornaram artesãos com o trabalho em madeira no torno. E faziam as farinheiras, pilões e as fruteiras. Eu me lembro que mamãe guardava com muito carinho um cálice de madeira torneado e dizia que era lembrança do seu irmão Marcelo Ferrari, por volta da década de 20. Haviam muitas famílias com artesãos”, recordou Tomaz completando que quando era estudante ia na estação e se lembra da banca de torneados de Antonio Dal Corso, conhecido por Tosque e do Aristides Dal Corso, o Tinho.

Eles trabalhavam muito com o torno em madeira e vendiam na estação para o pessoal do trem da Mogiana. Ele também lembrou dos trabalhos bonitos de Izidoro Angeloni numa fase mais recente.
 
Dal Corso

“Meu pai era um artista que transformava pedaços de madeira em peças para uso e decoração, tais como, farinheira com colher, pilão, porta-joias e fruteiras. Além disso fazia pião para as crianças brincarem. Usava sempre madeiras especiais, tais como, jacarandá, cabreúva, caviuna e canela de sassafrás. Ele mesmo preparava os instrumentos e as peças de madeira ficavam girando em alta velocidade para que fosse dando a forma em cada trabalho”, contou Antonio Dal Corso Filho. Ele ainda disse que as peças eram vendidas para os passageiros em uma banca na estação de Jaguariúna.

arquivo sem legenda ou nomeIzidoro e Luiz
 
Essa tradição ainda continua sendo mantida por Luis Gustavo de Campos que aprendeu essa arte com Izidoro Angeloni. “A gente sempre entregava madeira pra ele e eu era curioso naquela época e ficava vendo ele tornear. Até que me ensinou a tornear um bracinho de pilão, um copinho e um pilão. Quando cheguei em casa desmontei uma carcaça de esmeril e fiz um torno pra mim de madeira, e ficava fazendo pequenas peças para treinar”, contou Luis Gustavo completando que quando seu Izidoro faleceu adquiriu o torno e passou se dedicar a atividade.

“Eu não trabalho por dinheiro mas com o coração. Eu penso em criar coisas e vou dando formatos as peças. É um atividade que relaxa bastante e me acalma”, contou Luis Gustavo completando que utiliza as madeiras cedro rosa, amendoim, louro, jacarandá e cabreúva, e que são materiais reaproveitados.
Ele faz em torno de 40 tipos diferentes de peças torneadas. “É um aprendizado que está praticamente sumindo aos poucos, e por este motivo, é uma honra estar podendo dar continuidade. Eu tenho peças em diversos estados brasileiros, e nos países de Cuba, Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Peru e México”, salientou.  

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